terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Little Star Podcast

Está feito. O primeiro podcast português sobre cinema. Sem pretensiosismos, descomprimido e em doses concentradas de 10 minutos. O podcast que aborda o cinema de uma maneira diferente.

Fique a conhecer a crítica à crítica, os bastidores do cinema e uma análise mais aprofundada às questões da realização.

Um podcast quinzenal, iluminado por Dino Estrelinha e conduzido por Samuel Fialho.

sábado, 30 de agosto de 2008

Dark Knight


Se analisarmos géneros considerados por alguns menores, veremos que esta tendência não é novidade. O género de terror e os diversos sub-géneros, os filmes de ficção-cientifica, os westerns e os policiais são géneros geralmente associados à mesma ideia de vazio temático e orientados para a acção e colocados sob o rótulo de entretenimento. 

No entanto, a distância temporal veio clarificar a importância cultural destes géneros, atribuindo-lhes relevo no tratamento de certas temáticas( a dicotomia civilização/selva no western, a tecnologia como extensão do homem na ficção cientifica), ou como produtos culturais de um acerta época. 

O género do super-herói é um fenómeno recente que se tem crescido apoiado no salto tecnológico que os efeitos especiais tiveram. 

Adicionado ao facto de a origem residir numa forma de arte que durante muitos anos foi considerada apenas para consumo juvenil torna fácil a desconsideração pelo género do super-herói. 

Existe uma tendência para encarar qualquer filme que se enquadre neste género como vazios de conteúdo,sem profundidade dramática e orientado apenas para a acção e para o entretenimento. 

Sem querer, criamos por vezes um quadro mental que impõe rótulos e impede uma avaliação isenta e correcta. 

Ao depararmos com um filme como Dark Knight não é fácil no meio da azáfama das acrobacias,das explosões e dos efeitos especiais que regam as cenas de acção, não colocar o rótulo de entretenimento puro e de vazio de ideias e de mensagens. 

No entanto, libertando-nos desse quadro mental podemos encontrar no filme elementos que resultam de um reflexão da ressaca ideológica do pós 11 de Setembro e das questões que assolam a sociedade de como lidar com este novo terrorismo.Elementos que encontramos bem ilustrados no poster onde à figura de Batman se opõe um edifício em chamas 

A necessidade de Batman, enquanto elemento figurado de uma força da lei sem fronteiras geográficas e éticas, aparece sobre a égide da seguraça. 
A ideia de Batman é a resposta da sociedade ao medo causado pelo novo tipo de terrorismo apátrida representado na figura de Joker, um agente do caos cujos únicos desejos são apenas comprar gasolina e uns explosivos. 

No entanto, a esta ideia simplificada de apologia de um securitarismo repressivo contida na narrativa, é acrescentada simbolicamente a responsabilidade de Batman no estado de terror. 

De facto, ao analisarmos com atenção o cartaz de promoção que foi referido atrás veremos que a causa do edifício em chamas não é um avião ou uma acção terrorista é sim o logótipo do próprio Batman. 

Esta inversão simbólica expressa a ideia de que na génese do estado de terror, na génese de Joker, encontramos a violência e repressão do próprio Batman. A ideia circular da violência que gera violência que já encontramos no filme Munique de Spielberg. 

Batman é o cavaleiro que merecemos, é referido no filme. 

E assim somos levados a Harvey Dent, o cavaleiro que precisamos, em oposição à figura corrompida pela vingança de Duas Caras. 

Creio que no futuro Dark Knight será visto no futuro, a par de filmes como A Vila, Terra dos Mortos e Guerra dos Mundos, como o resultado cultural do período de medo e repressão em que vivemos.